Todos
já sabemos a realidade dos cortes na educação. Nós, pós-graduandos, teremos que
enfrentar um duro período. Ainda que exista a garantia da manutenção das bolsas
em vigência, a redução orçamentária no custeio inviabiliza as rotinas básicas e
as próprias atividades que fundamentam a função social dos programas de
pós-graduação (PPG’s): formar pesquisadores e produzir conhecimento. A sonegação
dos recursos para a pós-graduação prejudica ações basilares, como as bancas de
qualificação e de defesa, a aquisição de insumos para a pesquisa, o funcionamento
de laboratórios, a manutenção de equipamentos, a participação de docentes e
discentes em eventos científicos, as idas a campo para a coleta de dados e
outras missões científicas, o apoio à publicação de artigos científicos, entre
outros.
Tal
quadro de precarização de nossas condições de estudo e trabalho levou os
pós-graduandos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) à
mobilização. Em 16 de julho, realizamos uma ssembleia com a presença de cerca
de 50 estudantes de pós-graduação. Nessa atividade, elaboramos uma carta aberta
[1] que repudia o corte de verbas, explicita os problemas que vêm sendo
enfrentados pelos estudantes e cobra da administração central da Universidade o
pagamento das dívidas dos PPG’s com os pós-graduandos, bem como transparência
na administração dos recursos. A ssembleia convocou o Fórum de Representantes
Discentes (que ocorreu no dia 20 de julho), contando com a participação de
cerca de 30 representantes discentes que aprovaram a carta confeccionada na ssembleia.
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Aula pública do campus Centro |
Entendendo
que os cortes na Educação atingem toda a comunidade universitária, a Associação
de Pós-Graduandos da UFRGS (APG-UFRGS), seguindo o encaminhamento da ssembleia,
construiu as aulas públicas em parceria com a Associação dos Servidores da
UFRGS, UFCSPA e IFRS (ASSUFRGS), a Seção Sindical UFRGS do Sindicato
Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES)
e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRGS. Nessas aulas, as entidades
demonstraram um conjunto de problemas que a universidade vem apresentando em
função da má gestão (prédios interditados, licitações malfeitas, condições de
trabalho e estudo precárias) e dos cortes de verbas para a educação em função
da priorização do serviço da dívida pública. Ficou clara a importância da
unidade dos três segmentos (discentes de pós-graduação e graduação, docentes e
técnicos) para fortalecer a defesa da universidade pública de qualidade e para
avançar em sua democratização. Em aula pública realizada no Campus Centro,
também realizamos um ato com caminhada em torno do campus. A atividade contou
com a participação de 300 pessoas e culminou na entrega da carta aberta à
administração central. Infelizmente, fomos recebidos apenas pelo representante
da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGESP). Continuamos em contato com a
Reitoria, na perspectiva de receber resposta à carta. Nesse meio tempo, alguns
artigos sobre o assunto foram publicados na mídia [2,3].
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Ato após a Aula Pública |
No
dia 11 de agosto, os estudantes de todo o Brasil manifestaram-se contra os
cortes e a redução da maioridade penal. Em Porto Alegre, não foi diferente. O
ato contou com a presença de estudantes secundaristas e universitários. APG,
ASSUFRGS, ANDES e DCE incorporaram-se à marcha.
Em
seguida, no dia 13 de agosto, mais de 70 estudantes de 5 diferentes PPG’s se
reuniram em uma Assembléia dos Pós-Graduandos do Instituto de Biociências da
UFRGS. Os cortes na educação, em especial na pós-graduação, foram
consensualmente condenados e também se iniciou um debate amplo do conjunto de
limitações próprias da condição precária dos pós-graduandos (baixo valor da
bolsa, exigências produtivistas, ausência de direitos como insalubridade/periculosidade,
férias regulamentadas, previdência, décimo terceiro salário, entre outros) que
já estava em pauta antes dos cortes. Foi iniciada a construção de um manifesto,
que será enviado a todos os colegas para ampliar o debate. Apontou-se como
encaminhamento a aprovação desta carta em uma próxima Assembleia Geral. Também
foi solicitado à APG realizar uma nova assembléia de todos os pós-graduandos do
Campus do Vale.
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Assembleia dos pós-graduandos do Instituto de Biociências |
Para aqueles que ainda têm dúvidas, sugerimos a
matéria de Herton Escobar publicada na Science, que ajuda a entender esses problemas que
a APG já vem denunciando desde o início do ano [4]. No entanto, o
governo e reitorias continuam a pedir que a comunidade universitária se adapte aos cortes. É nítida a
distância entre os que administram o dinheiro público daqueles que trabalham e
estudam nas universidades públicas.
Na contramão deste pedido, nesta última quinta-feira (27/08) mais de 80
pós-graduandos de 15 diferentes programas de pós-graduação do Campus Vale optaram
consensualmente por lutar contra o corte de verbas na educação e por melhores
condições de trabalho e estudo. Encaminhamos uma paralisação na quarta-feira, dia 2 de Setembro. Nesse mesmo dia, será
realizada uma Assembléia Geral no campus centro, às 18h30min no Plenarinho
(Prédio da reitoria).
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Assembleia dos pós-graduandos do Campus do Vale. |
Pós-graduandos, agora é a hora de radicalizarmos a democracia interna da
universidade. Os pós-graduandos estão dispersos enquanto sabemos que nossos
inimigos encontram-se centralizados em Brasília. Precisamos centralizar nossa
luta! Na Bahia, colegas encontram-se em greve deflagrada
na semana passada, enquanto no Rio de Janeiro alunos já participavam das
atividades de greve antes mesmo dos cortes, precipitando uma luta concreta
contra a precarização da educação. Necessitamos organizar nossos esforços
conjuntamente! São eventos como esse, em unidade com todos os segmentos
universitários, que dão visibilidade à pauta, amadurecem a luta pela educação
no país e podem levar à organização de esforços nacionais.
Localmente, devemos
pressionar a administração central a honrar os compromissos dos PPGs com os
pós-graduandos e estimular a luta nacional contra os cortes.
Nacionalmente,
devemos articular nossos esforços.
Viva o movimento!
[4] Escobar,
H. Science 2015 Vol. 349 no. 6251 pp. 909-910
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