quarta-feira, 12 de abril de 2023

Carta aberta à Comunidade da UFRGS sobre o Machismo na Ciência

 Carta aberta à comunidade da UFRGS


Mulheres atualmente são a maioria dentro das universidades brasileiras tanto na graduação como na pós-graduação, no entanto, a entrada na universidade só se deu em 1879, se pensarmos em mulheres não brancas, essa entrada se deu ainda mais tardiamente e a passos lentos. Apesar de sermos maioria, ainda somos sub-representadas nos quadros de docência, nos cargos de liderança em pesquisa e tecnologia, em cargos públicos e políticos. Essa realidade é reflexo das dificuldades enfrentadas pelas mulheres na universidade, sem incentivos, sem apoio quando mães, vítimas de violências e silenciamentos. 

Nós, mulheres da ciência, nesse 8 de março viemos repudiar o machismo, a misoginia e o sexismo que vivenciamos dia após dia dentro do ambiente acadêmico. Repudiamos toda e qualquer forma de discriminação às mulheres. Repudiamos qualquer ato, fala ou conduta que fere os nossos direitos básicos. 

O machismo se mostra presente nas relações entre pesquisadoras e pesquisadores, em seus diversos âmbitos, seja nas disciplinas, nas pesquisas, nos processos seletivos, em gestões, nos eventos ou seja nos fomentos de pesquisa. Fazemos parte da academia e não podemos deixar nos calarem dentro de um espaço que é NOSSO por direito. Estamos cansadas de não sermos ouvidas dentro da sala de aula, em reuniões e em espaços de convívios. Nossas ideias e argumentos não são levados em pauta e muitas vezes nem ouvidos, e quando ouvidos, ignorados. Cansamos de assédio velado dentro do ambiente acadêmico em forma de comentários, cansamos de denunciar abusadores e não sermos escutadas.

O conceito de gênero, como bem sabemos, já foi cooptado pelo patriarcado, dessa maneira, muitas pesquisadoras têm seus trabalhos desqualificados e não levados a sério quando se trata da questão das mulheres. O machismo opera dentro da divulgação científica quando para nós é mais difícil as possibilidades de publicação, divulgação científica e fomento às pesquisas. Muitas se questionam ao abordarem o tema justamente pelo medo de não serem reconhecidas. Nós precisamos nos sentir seguras e sem receio de poder escrever e publicar o que de fato queremos e sermos devidamente reconhecidas por tal.

Nesse 8 de março, data histórica de luta das mulheres, reivindicamos respeito e seguridade pela vida de todas, seja dentro ou fora da universidade, pela garantia de mais espaço às mulheres dentro da ciência e a sua permanência e por um ambiente sem discriminação de gênero, raça, etnia e sexualidade e o qual possamos nos sentir seguras.



Porto Alegre, 8 de Março de 2023.


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